Um evento como a invasão do Palácio da Liberdade pelos servidores da segurança pública, que protestavam por salários, tem efeito devastador na época atual em que vivemos, na qual imagens valem muito mais do que significados. O governador, nesse momento crítico, tornou a situação ainda pior, desaparecendo do olhar público: perdeu, com isso, uma valiosa chance para reafirmar seu papel de liderança civil da comunidade mineira, legitimado pelos votos que o elegeram em 2014. Ao reafirmar sua ausência, Fernando Pimentel deixou que se concretizasse a imagem do fracasso total de sua gestão, equiparando-o ao infeliz desempenho de Eduardo Azeredo diante do motim militar de 1997.
O comportamento de Fernando Pimentel diante do protesto dos servidores da segurança pública, curiosamente, constitui a regra da postura do atual governo mineiro. Levantamento recente de um semanário nacional indica que as entrevistas e aparições públicas de Pimentel são muito menos numerosas do que a de outros governadores que têm pretensões eleitorais. Essa passividade do líder petista mineiro contrasta agudamente com seu alegado interesse em disputar a reeleição.
Para além dessa dúvida, vale analisar as chances hipotéticas com as quais Pimentel conta para ser reeleito. De início, o petista parte de uma reduzida base de apoios no interior: seu partido controla apenas 37 prefeituras, uma redução significativa em relação às 114 cidades comandadas pelo PT em 2014. Além disso, o governador perdeu o apoio do MDB, que não só abriga 154 prefeitos, como também foi o principal responsável por levar o nome de Pimentel ao interior na última eleição. Além da questão partidária, o governador também granjeou a antipatia de centenas de prefeitos por conta própria, ao institucionalizar o atraso no repasse de recursos estaduais aos municípios, descumprindo obrigatoriedade constitucional.
Carente de seu maior aliado político, o MDB, e do apoio dos prefeitos, Fernando Pimentel também não pode contar muito com os votos dos servidores públicos e de suas famílias: estes suportam parcelamento e atraso em seus salários há mais de dois anos. Não há, nesse caso, argumento econômico ou fiscal capaz de aplacar essa frustração coletiva.
Some-se a isso um profundo desgaste de Pimentel junto ao povo, que percebe a decadência na oferta de serviços públicos. Faz falta um legado administrativo que possa falar em benefício de Pimentel junto à população. Pelo contrário, a gestão do petista se aproxima do final sem ter encontrado um direcionamento a partir do qual pudesse enfrentar a crise fiscal que atinge Minas. Para o cidadão, a única ação perceptível vem sendo o contorcionismo verbal, constantemente praticado para eximir o governo da culpa pela crise; porém, após três anos e meio de gestão, quem não era culpado já se tornou ao menos cúmplice.
Além dessas adversidades, Pimentel ainda conta com o desgaste de quatro denúncias em ações penais e três inquéritos que tramitam no STJ. A estreia de um modelo de campanha eleitoral mais curto e barato representa, para o governador, uma dificuldade extra para reverter esse grave dano em sua imagem.
Todos esses obstáculos, portanto, se apequenam perto da apatia que Pimentel tem demonstrado nos últimos meses. Sua reeleição, nesse sentido, pode se tornar uma missão verdadeiramente impossível: afinal, mesmo que querer não signifique poder, é certo que não querer só pode levar mesmo ao fracasso.
Fonte O Tempo
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