Alvejado por servidores, prefeitos e ações judiciais, governador vai à reeleição sem se render ao MDB
A trincheira não é um lugar hostil para Fernando Pimentel (PT). Em três anos e meio de mandato à frente do governo de Minas, ele abandonou o Palácio Tiradentes, na Cidade Administrativa, exilando-se no Palácio da Liberdade. Brigou com seu vice do MDB e, em seguida, com todo o partido. Deixou prefeitos e servidores furiosos ao parcelar e atrasar repasses e salários. O cenário nada favorável parece funcionar como um combustível para o ex-guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). O governador quer a reeleição
Hoje com 67 anos, Pimentel, quando acuado, ainda reage como o jovem militante que, no auge da repressão militar, em 1970, abandonou a cautela ao ser fechado por um taxista bêbado durante a noite, em Porto Alegre. Depois de reclamar e receber uma banana do motorista, o militante perseguiu o táxi por três quarteirões até emparelhar com ele, sacar o revólver 38 e ameaçá-lo. “Botei a arma na cara dele. Xinguei o cara, que quase capotou. Dei um tiro para cima, para assustá-lo, e fugimos com o nosso carro com placa fria”, contou o ex-guerrilheiro ao sociólogo Marcelo Ridenti, no livro “O Fantasma da Revolução Brasileira”.
Ao autor, o próprio admitiu que, além da irresponsabilidade juvenil, o episódio também evidenciou a superioridade que julgava ter na clandestinidade. Ele seria preso logo depois, aos 19 anos, e entregue ao impiedoso capitão Paulo Malhães, do Centro de Informações do Exército (CIE).
Se naqueles tempos Pimentel foi atormentado por Malhães, em sessões de tortura que se mantêm vivas na memória do governador, hoje os agentes do Estado que tiram o sono do ex-guerrilheiro são outros. Seu destino não depende mais de um enferrujado 38, mas da habilidade de seus advogados para livrá-lo de todas as acusações e encontrar uma solução para cumprir as promessas de campanha feitas há quase quatro anos. Pimentel espera retirar das urnas, em 7 de outubro, um apoio popular capaz de mostrar, quase 50 anos depois, que continua do lado certo da história.
Hoje, à frente do segundo maior colégio eleitoral do país, Pimentel ainda flerta com a vida secreta. Em poucos mais de três anos e meio de governo, deu raras entrevistas e apareceu pouco em público. No lugar dos palanques, prefere as confidências de corredor, principalmente as que terminam com a mesa farta no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador. Do passado guerrilheiro, ainda conserva os sinais de coragem e ousadia, além da amizade com a ex-presidente Dilma Rousseff, que tornou-se um dos trunfos da campanha do PT em Minas para assegurar sua reeleição.
A tarefa, porém, não será das mais fáceis, como em 2014, quando venceu, com facilidade, o tucano Pimenta da Veiga no primeiro turno. Naquele ano, Pimentel tinha os excelentes rescaldos de sua gestão à frente da Prefeitura de Belo Horizonte, além do apoio pragmático do MDB, que garantiu sua sobrevivência política até meados deste ano.
Neste pleito, o patrimônio político de Pimentel encolheu. Além de ter perdido a força das alianças, que lhe rendeu até a abertura de um processo de impeachment no Legislativo mineiro, o governador acumula denúncias na Justiça por supostas ações de corrupção enquanto chefiava o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo de Dilma Rousseff, uma das favoritas à vaga no Senado por Minas.
A candidatura da ex-presidente é um paradoxo para o PT mineiro. Ao mesmo tempo em que sua popularidade oferece carona a Pimentel, seria por causa dela que agora o MDB teria abandonado o barco e deixado à deriva o grupo petista. Dilma não teria aceitado subir no palanque com seus algozes emedebistas, que votaram em massa pelo impeachment que a tirou do cargo.
O saldo deixado por Pimentel até aqui não lhe garante posição confortável na disputa. Parcelou os salários dos servidores públicos, reteve os repasses constitucionais dos municípios. Concedeu aos professores uma conquista histórica: o direito ao piso nacional da educação, mas ainda não teve condições de honrar o compromisso de pagar o benefício. Por causa da recorrente dificuldade financeira, tem sido alvo de paralisações lideradas por sindicatos de servidores públicos, que antes tinham os governos do PSDB como inimigos.
Com toda a prudência que se esperaria de um candidato à reeleição que será o alvo natural em um confronto com os adversários, Pimentel, tenso, entrou no primeiro debate televisionado, pronto para levar chumbo. E não economizou pólvora.
Antes aliado, Aécio será munição na campanha
A comparação entre Pimentel e os adversários tucanos é recorrente no meio político. Quem nunca ouviu a frase, dita até mesmo pelos esquerdistas fisiológicos: “Pimentel é o mais tucanos dos petistas”. Esse estigma lhe foi dado quando se juntou, em 2008, ao então governador Aécio Neves (PSDB) para uma aliança que chocou líderes do PT estadual.
O petista, então prefeito de Belo Horizonte, uniu as forças com o hoje também acuado Aécio para apoiar o então desconhecido Marcio Lacerda (PSB) em sua primeira aventura pela política. Bom articulador e habilidoso na arte de conseguir o quer, elegeu Lacerda seu sucessor.
A vitória do socialista em sua primeira eleição deveu-se muito à elogiada gestão que Pimentel fizera como prefeito, sendo um dos “pais” do Orçamento Participativo, projeto de sucesso que marcou as administrações petistas em BH. Desde que assumiu o cargo em 2003, no lugar de Célio de Castro, realizou importantes investimentos em políticas sociais. Deixou a prefeitura com 90% de aprovação.
Agora o cenário não é mais tão favorável. Na mais recente pesquisa DataTempo, apareceu com a mais alta rejeição entre os concorrentes: 27,8%. Duas estratégias serão fundamentais para reverter o quadro. A primeira, o governador já tem exposto nas poucas entrevistas que deu como pré-candidato. Antigo aliado, Aécio agora virou munição nas mãos de Pimentel. Acusado de pedir R$ 2 milhões em propina a Joesley Batista, Aécio é padrinho político de Anastasia, principal alvo do petista nestas eleições. A imagem do tucano será repetidamente colada a Anastasia, que tenta, em vão, se desvencilhar do “criador”.
A outra forma de tentar vencer é colar sua imagem à de Dilma e à de Lula, ambos com bons números em Minas. E à sombra dos ex-presidentes, quem sabe, reconquistar a confiança do eleitor para, como na juventude, conseguir o poder tendo como arma, de novo, o voto popular.
1970
Foi preso no Rio Grande do Sul, onde foi torturado e ficou por nove meses em uma cela sem janela, até ser transferido para Juiz de Fora, na Zona da Mata, onde cumpriu pena por dois anos. Os últimos seis meses de prisão foram cumpridos no Dops, em Belo Horizonte.
2003
Assumiu, definitivamente, o cargo de prefeito de Belo Horizonte em razão da aposentadoria de Célio de Castro. Sua gestão em BH foi marcada por grandes investimentos nas áreas urbana e social. Foi apontado pelo site inglês Worldmayor como o oitavo melhor prefeito do mundo. Encerrou seu mandato com altos índices de aprovação.
2014
Anunciou a saída do Ministério de Desenvolvimento, Indústria de Comércio Exterior, durante o governo de Dilma Rousseff, para disputar o governo de Minas pelo PT. Em 5 de outubro foi eleito governador de Minas Gerais no primeiro turno, com 52,98% dos votos válidos, vencendo o candidato Pimenta da Veiga, candidato pelo PSDB.
Fonte O Tempo
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